Ressignificando o 3D&T Alpha – Código de Honra (Leis de Asimov)

Na descrição da característica Força, o Manual 3D&T Alpha diz:

Muitas vezes, contudo, a Força não significa exatamente força bruta - e sim o dano que você (ou suas armas) provocam. Então, é possível que um gigante truculento tenha Força 3 e uma garotinha ninja com armas muito afiadas tenha Força 4. Caso precise fazer coisas como levantar um caminhão, que exige força bruta, essa mesma garotinha ninja pode “simular” força bruta com manobras e golpes de suas armas (digamos que ela usa a espada e aplica um golpe contra o caminhão para tirá-lo do lugar).

A fonte de sua Força pode ser qualquer coisa: seus próprios músculos, um braço biônico, um anel mágico, um tentáculo que emerge do chão sempre que você precisa… invente o que quiser. Isso não tem qualquer efeito especial em termos de jogo.

Algo semelhante também consta na descrição das magias Ataque Mágico e Força Mágica, em que o efeito visual da conjuração fica a critério do jogador. Para o sistema, o que importa é a quantidade de dano que a magia é capaz de fazer.

Com base nisso, 3D&T Alpha (e também as versões anteriores) é um sistema em que se pode interpretar livremente as origens e formas dos poderes dos personagens, desde que o efeito mecânico continue o mesmo. Assim sendo, nesta nova coluna Ressignificando o 3D&T Alpha eu vou tentar usar vantagens, desvatagens e magias que já existem no livro básico, aplicadas a situações diferentes das explicadas no mesmo, sem precisar mexer na mecânica.

Vamos interpretar as regras!

As Leis da Robótica de Isaac Asimov

Se você já assistiu O Homem Bicentenário ou Eu, Robô, já viu uma explicação sobre as Três Leis da Robótica. Tratam-se de três princípios criados pelo autor Isaac Asimov em seus livros, que tinham por objetivo tornar possível a coexistência pacífica entre humanos e mut... digo, robôs. As regras eram:

1ª Lei: um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª Lei: um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entrem em conflito com a Primeira Lei.
3ª Lei: um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Lei.

As duas primeiras leis aparecem no Manual 3D&T Alpha na forma de desvantagens do tipo Código de Honra (1ª Lei de Asimov e 2ª Lei de Asimov), cada uma custando -1 ponto.

Na forma pura das desvantagens (e das obras de Asimov), tais Códigos de Honra podem colocar o personagem em apuros, visto que na maioria dos cenários os humanos são a raça mais numerosa. Assim, um jogador ficaria facilmente sujeito aos caprichos dos seus colegas de grupo ou a NPCs humanos, precisando se utilizar de muita inteligência constantemente durante a sessão para não desobedecer as ordens e ajudar nos combates.

"Pelos meus irmãos"

Uma opção de como mudar essa desvantagem está no antigo Manual do Aventureiro Turbo, nos Clérigos e Paladinos de Glórienn. Tais kits exigiam que o jogador adotasse as Leis de Asimov, mas aplicava suas regras a elfos ao invés de humanos.

Assim, as Leis podem ser usadas para representar o quanto um personagem é dedicado a proteger seu povo. Além de elfos, também poderíamos usar facilmente essa mecânica para um personagem de Tamu-ra ou um duyshidakk, todos buscando garantir que seu povo e sua cultura permaneçam vivos.

"Pelos pecados do meu povo"

Indo para um lado menos bonito do uso das Leis, o personagem poderia não ter necessariamente o desejo de proteger seu povo, mas ter uma relação de obediência cega a outro povo. Pense por exemplo em Shingeki no Kyojin, e em como os eldianos são obedientes aos marleinianos, aceitando serem segregados em um bairro/campo de concentração e até entregarem suas vidas para serem usados como armas de guerra contra outras nações.

Semelhante a isso, podemos ter também casos de quem obedece a outro povo não por opção, mas por obrigação. Um exemplo é a ramificação secundária do Clã Hyuuga, de Naruto, que não pode agir contra a ramificação principal, podendo morrer através da ativação de um selo.

"Sim, senhor!"

Uma opção mais específica é não ser leal a um povo, mas a uma família ou personagem, sendo um servo leal. Alfred é fiel ao Batman (apesar que ele falha miseravelmente em impedir que o Patrão Bruce se machuque), Dobby é fiel a Harry Potter...

Também vale aqui a opção de servir a uma família. Pense nas relações de poder das Casas em Game of Thrones. Os Bolton (pelo menos até certo ponto da história) sendo fiéis aos Stark, que por sua vez eram fiéis aos Baratheon.

Conclusão

É claro que o mestre deve ficar atento à esperteza dos jogadores. A mudança aqui é apenas trocar os humanos (a raça mais numerosa do mundo) por outra raça, etnia ou família. Se este novo grupo for incomum no cenário, o jogador vai estar ganhando pontos sem ter que se preocupar efetivamente com as consequências da desvantagem.

Lembre-se também que a graça dos Códigos de Honra é gerar dilemas, fazendo os personagens serem testados em suas crenças e princípios quando colocados em situações controversas. Será que devo proteger uma família de bruxos que apoia um lorde das trevas? Será que devo levar destruição a cidades inocentes em nome de uma nação expansionista? Será que devo me curvar para um nobre cuja família claramente não dá valor aos meus? São estas situações que diferenciam a ressignificação das Leis de Asimov de um simples Patrono.

3 comentários!

  1. Elaboração interessante sobre o tema. Tenho esbarrado com informações (acho que foram postagens do Cassado no Twitter) de que a Jambô está desenvolvendo uma nova edição de 3D&T e até fico empolgado! Pessoalmente eu espero, mas com pouca esperança nesse sentido, que o jogo volte um pouco com a simplicidade com que começou. Antes tudo no jogo se resolvia com habilidades, vantagens e desvantagens. Agora o jogo está entulhado de kits que praticamente carregam cada um uma mini-regra própria.
    • Yuji Meio-Elfo
      Eu estou em grande expectativa pra essa nova versão, que vai também tentar incluir um pouco mais da interpretação nas regras, com os papéis inspirados nos arquétipos de personagens de anime (e não apenas nos papéis em combate).
      • Eu curto muito a influência dos video games em 3D&T, mas a abordagem como foram inseridos os papéis de combate no jogo foi bem quadrada. Vou dar uma garimpada na internet para ver o que encontro sobre a nova encarnação do jogo, valeu!

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