A quarentena continua, um possível novo pico de epidemia está para vir, e alguns estados estão tomando decisões questionáveis sobre a reabertura do comércio. O que nos resta é manter a sensatez de ficar em casa. No entanto, nem tudo precisa estar parado! A algumas semanas atrás a Cabana do Elfo começou a fazer algumas mesas online com os seguidores que se mostraram experiências particularmente singulares que vamos apresentar neste artigo.
De fato, não comecei minhas partidas online nesse tempo dos jogos com os seguidores. Alguns meses antes, já estava arriscando umas partidas pelo Discord, um site de comunicação em texto e áudio o qual as pessoas podem montar servidores, adicionar pessoas para ter conversas e até colocar bots para música, gravação e, para o nosso interesse, dados virtuais. O Discord é uma excelente ferramenta para partidas online descomprometidas, ou que não exigem mais do que dados virtuais. Para sistemas que exigem mais do que isso, passei a usar Roll20. Às vezes os servidores do Discord podem não colaborar com o grupo, nos levando a buscar outras possibilidades, como o Hangout do Google, uma ferramenta somente para criação de salas com vídeo chamada.
Das minhas experiências somente no Discord, não tive quase nenhum problema, além dos eventuais sumiços de voz dos meus jogadores. Muito disso se dá pela conectividade e principalmente pelo próprio servidor, considerando que em algumas partidas que participei, a comunicação no Discord foi quase que completamente sem nenhum problema. Na minha segunda mesa de Shadow of the Demon Lord, me vi obrigado a buscar recursos visuais e grids para o combate. Foi quando me foi sugerido o Roll20. Eu até já possuía uma conta a muito tempo, quando eu tentei me arriscar a mesas online, bem antes de acabar se tornando uma necessidade comum nestes tempos atuais.
O Roll20 é um site especializado em criação de mesas online de RPG. Possui todos os recursos a disposição para jogadores e mestres, sem contar que fãs dedicados a seus sistemas fazem traduções de fichas e enviam gratuitamente para o site, o que foi o meu caso como mestre em SotDL e Savage Worlds. Além disso, o próprio site tem uma loja virtual para caso os mestres se interessem em comprar recursos, como tokens, mapas e até mesmo campanhas. Caso o mestre não tenha dinheiro para investir ou interesse nos produtos da loja, o site tem seu próprio buscador para achar tokens, mapas e imagens dentro das mesas online. Além disso o mestre pode fazer upload dos recursos que desejar, incluindo áudios, mas que nesse caso só suporta upload de arquivos de até 10 MB. Também tem o recurso de macros, para quem domina um pouco de programação e deseja facilitar rolagens de dados e outras ações criando botões específicos para ligar as suas fichas ou ao próprio grid.
No entanto, existe uma ressalva importante! O mestre tem um espaço limitado para guardar os arquivos que fez upload, o que também inclui qualquer tipo de recurso que encontrou no buscador. Fazendo uma assinatura premium, o espaço também aumenta, mas para todos os efeitos, tenha cuidado com o uso do espaço, se não eventualmente pode ocorrer uma sobrecarga nos dados, fazendo com que seus arquivos mais recentes sejam corrompidos, como foi o caso de quando perdi imagens recém colocadas para duas partidas de Savage Worlds. O mais doloroso foi ter perdido as imagens das cartas de aventura, ao qual eu tinha feito upload de cerca de 90 cartas para duas salas, o que me levou a fazer novamente esta tarefa.
Em termos de experiências, minhas reações foram mistas, o que me leva a crer que jogar online é algo que exige a prática da paciência e do desprendimento, não só pelos problemas técnicos, mas também pelos próprios jogadores. Em vários sentidos, presenciei muitas coisas de jogos online. Aquela perspectiva de que com a globalização e conectividade, as pessoas podem facilmente se reunir e se comunicar é claramente aplicada aqui. A meses atrás, nosso amigo e colaborador da Cabana Alison Andrade teve que se desligar de nossas mesas presenciais devido a agendas profissionais de sua vida. Sendo uma triste perda momentânea para as mesas de SotDL. Mas graças a proximidade com a internet, somado a esses recursos, pudemos retomar a mesa com ele marcando presença. Tanto que desta forma, decidimos dar continuidade a nossas mesas de SotDL somente pelo Roll20 e Discord, por essa ser a forma mais acessível de nos reunirmos.
Como pudemos ver, As meses online são uma alternativa para a aproximação dos amigos que de alguma forma tiveram que sair. Só precisando do esforço de fazer uma reunião online e poder se divertir. Podemos incluir que para o avivamento das mesas, ocorre um barateamento no uso de material, só dependendo dos pdfs como algo pago, enquanto que minituras, tokens, mapas, props e outros detalhezinhos que enriquecem a mesa podem ser encontrados gratuitamente na internet, sendo a necessidade das compras de recursos extras mais uma alternativa que uma necessidade. Afinal, independente do que estamos vendo ali na tela do computador, ainda dependemos da nossa imaginação!
Por outro lado, fazer uma mesa virtual pode parecer simples, mas nem sempre é. Em uma partida presencial entre amigos, muitas vezes o trabalho está em pensar as coisas que podem acontecer, incluindo os NPCs, se vai usar grid e quais minis pretende usar, se essa for uma necessidade. Numa mesa online, você inclui também os mapas que pretende usar, isso se você não pretende fazer por você mesmo, fazer upload de elementos que deseja expor, como imagens, efeitos sonoros e etc. De fato, pode parecer um cometário bobo, já que em campanhas em andamento tem menores preparos e são contínuos. No entanto em one shots, dependendo da especificidade dela, a atividade pode ser bem trabalhosa, principalmente quando os jogadores não têm acesso aos livros físicos ou digitais, o que leva o mestre, independente dos casos, a importar ou mesmo criar fichas do zero incluindo todas as descrições que o personagem precisa ter. Essa parte trabalhosa da criação das fichas é recompensada durante as mesas, já que promove maior agilidade aos jogadores diante as consultas.
Obviamente, jogar online requer acesso à internet, o que nem sempre é 100% preciso. A internet no Pará não é muito boa, mesmo para atividades simples, pode haver uma distorção na qualidade do acesso, mesmo que em praticamente todas as nossas mesas a comunicação tenham sido por áudio. Ao menos pra mim, não houve uma única mesa que não tenha tido problemas de comunicação, algumas bem leves, outras que levavam minutos para ser resolvido, isso por que estamos falando do Discord, a ferramenta que mais usamos para as partidas online. Roll20 possui dois defeitos sérios em relação ao acesso online: a comunicação em áudio e vídeo é ruim e lotérica, dependendo da mesa funcionará para uns e não para outros; o segundo defeito está em não existir um único aplicativo funcional para jogar pelo celular. Isso nos leva a outro problema: pelo Roll20 ser um site que depende de acesso a computadores, além da internet, nem sempre vão ter pessoas que poderão dispor de 3, 4 ou 5 horas para poder jogar, por diversos motivos e todos justificáveis.
Isso também nos leva ao fator humano. Como falei antes a experiência online exige a prática da paciência e do desprendimento. Muitas vezes os jogadores não estão exatamente preparados para mesas online, seja por não dominarem os programas e sites que informamos, como também pela limitação da falta de acesso a um computador. Então, naturalmente podemos encontrar pessoas, principalmente novatos em one shots que acabam na empolgação se inscrevendo pra partida sem exatamente ter os recursos exigidos. Devo enfatizar que a culpa não é da pessoa. RPG online ainda tende a ser uma experiência incomum, então não sabemos o quão consciente a pessoa pode ser sobre os programas que usamos. Tanto que me sinto triste como mestre quando um novato se inscreve, e eventualmente não pode participar por falta dos recursos. E nem sei como a pessoa pode estar se sentindo de dedicar uma parte do seu tempo pro jogo e nem poder participar.
Quando falamos sobre esse “despreparo”, ênfase nas aspas: também é exigido do mestre e dos outros jogadores a paciência e o entendimento pela situação de determinados jogadores. Muitas vezes ele está disposto a jogar, está participando, quer estar lá, no entanto eventualmente pode estar acontecendo algo no outro lado da tela dele que exigiria mais da atenção dele do que uma partida, considerando novamente o tempo que pode ser levado certas partidas. Então naturalmente pode ocorrer os famosos sumiços do jogador, alguns que parecem quase que um sequestro, considerando que as vezes perdemos completamente o contato com a pessoa. Já me foi falado que em partidas online, as que normalmente não são com amigos, estas situações podem acontecer, independente se alertarmos sobre comprometimento, sempre pode haver alguma situação que a pessoa pode sumir, e sem dar um feedback, já que uma partida ruim pode ser um motivo de sumiço também.
Quando falei sobre desprendimento, falei no sentido de que raramente as coisas vão sair como o mestre espera. Não falo no sentido da narrativa, das mudanças repentinas na condução de um jogo ou algo parecido. Isso sempre ocorre. Falo exatamente na parte técnica e extra-humana. Acredito que o mestre sempre vai ter comprometimento nas partidas que está montando, como falei acima, mas além disso também deve aceitar que algumas não poderão acontecer. Que as vezes "tesourar" aquela parte que você pensou, pode ser mais interessante para os jogadores. Que talvez, aquele personagem complexo da one shot, vai ser completamente diferente nas mão de outra pessoa. Mas mudanças em prol da diversão devem ser aceitas.
Já apresentei aqui todos os problemas que presenciei, tanto na conectividade quanto com os próprios jogadores, sejam pelas suas disposições, sejam pelos seus próprios compromisso, seja até pela comunicação (não foram as poucas vezes que tive que entrar em contato pessoalmente com os jogadores para ver se eles iriam participar das mesas). Portanto, o que resta ao mestre é tentar dar o seu melhor e aceitar qualquer tipo de acontecimento. As vezes aqueles dois jogadores que restaram, disponíveis e dispostos podem promover a experiência mútua que o mestre imaginava ter, as vezes aquele rapaz novato que está equilibrando os cuidados com o bebê e narrando suas ações via texto pode estar muito empolgado. Temos que nos contentar com essas pequenas vitórias, como uma peça de teatro que não deu muitas pessoas, aquele vídeo ou podcast trabalhosos que só deu 10 visualizações, ou mesmo uma análise ou artigo que só teve um comentário, coisa comum no blog. Não devemos nos exigir sobre aprovação, mas sim dar o nosso melhor no hobby que tanto gostamos. Até por que, mesmo eu fui jogador de mesas online, e senti o empenho do mestre e o quanto ele estava gratificado pelas pequenas conquistas que teve pelo seu esforço.
Apesar dos diversos prós e contras que experimentei em mesas virtuais, não deixarei de continuar fazendo partidas online. Admito que preciso me aperfeiçoar, e que certas coisas vão estar fora do alcance, como uma internet estável, que nem sempre haverão jogadores querendo jogar o mesmo que a gente, ou que talvez o mestre tenha que ter um jogo de cintura e arriscar algo diferente. A questão é que não devemos deixar nosso hobby morrer ainda mais com a acessibilidade online, e nem mesmo devemos deixar de usar nosso hobby para reencontrar amigos e simpatizantes do RPG.
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