Apresentando… Spartacus

SPARTACUS

Idade recomendada18 anos
Duração150 minutos
Número de jogadores3 a 4 jogadores (expansões aumentam o número)
Dificuldade3 / 5
Clareza do Manual4 / 5
Equipe criativaAaron Dill, John Kovaleski, Sean Sweigart
EditoraKrono Games
Ranking Ludopedia62º lugar (Nota 8,5)

Normalmente quando penso em jogos licenciados de filmes e séries, já fico com o pé atrás sobre a qualidade. Claro, devemos ser bem específicos aqui, falo de conteúdo vindo diretamente de séries e filmes, não exatamente só de um personagem. Tanto que é inquestionável a qualidade dos jogos da franquia Batman Arkhan, mas essa é outra discussão. Ao menos quando se trata de videogames e alguns RPGs, material licenciado é algo meio questionável. Por outro lado, quando se trata de boardgames licenciados, acabamos por encontrar muitas pérolas que se saem muito bem na sua proposta. Esse é o caso de Spartacus.

Spartacus é um jogo que de primeira não vende uma imagem muito confiável pela sua caixa. Ele de fato não é um jogo muito bonito, já que usa as imagens licenciadas da série. Sem contar que expõe o selo +18, o que pode afastar um pouco o interesse de jogadores que preferem jogos mais familiares. No entanto, muito além desses detalhes, temos um jogo que envolve intriga, acordos entre os jogadores, comércio e leilão, e é claro, lutas nas arenas.

A série se trata da jornada de um guerreiro trácio que perdeu tudo ao tentar se defender das consequências das guerras travadas contra Roma. Se não bastasse, ele torna-se um escravo e por fim um gladiador com a alcunha de Spartacus. Baseando-se na história do escravo de mesmo nome e origens, ele lidera uma revolta de escravos contra Roma, com um desfecho que se alinha levemente com a história real.

O jogo e suas expansões por outro lado, se concentram nos eventos da primeira temporada e Spartacus Origens: Deuses da Arena, contado sobre as intrigas políticas de Dominus que pretendem alcançar o poder do Senado a partir dos acordos e dos jogos nas arenas de combate. Tanto é que os jogadores assumem estes Dominus para se tornarem os mais influentes de Roma.

Apesar de tantas coisas que podem ser feitas no jogo, ele consegue ser bastante didático. Isso graças ao fato das rodadas serem organizadas por fases: Manutenção, Intriga, Mercado e Arena. Cada fase tem eventos com ações coletivas, as quais os jogadores realizam simultaneamente.

Manutenção é a primeira fase da rodada: os jogadores desviram cartas que foram ativadas na fase de intriga da rodada anterior, curam os gladiadores ou escravos feridos e fazem o balanço de gastos e ganhos entre escravos e gladiadores. Escravos concedem moedas, gladiadores consomem.

A fase de Intriga é onde ocorrem as maiores disputas entre os jogadores, causando até estresse em jogadores mais esquentados. Aqui os jogadores lançam Esquemas e usam as habilidades de seus Dominus a fim de conseguir dinheiro (os denários), Influência e atrapalhar estratégias de outros Dominus. Caso um Dominus seja afligido por alguma carta de esquema, ele pode gastar guardas para tentar a sorte nos dados ou usar alguma reação que tenha acesso para cancelar o efeito. Para acionar uma carta de esquema ou reação, o Dominus precisa ter um valor igual ou maior de Influência. Se não for capaz sozinho, ele pode pedir apoio de outro Dominus, que podem somar suas influências para lançar um esquema ou reação. Obviamente é possível cobrar quem pediu ajuda, sendo feitos acordos abertos entre os jogadores. Acordos esses que podem ser feitos a qualquer momento e de qualquer forma dentro das regras. No entanto, honrar o acordo entre os jogadores já é outra história.

O Mercado é onde os jogadores gastam seus denários para tentar investir em seu Dominus. De início eles podem vender seus guardas, escravos ou gladiadores, ou qualquer outro item que adquiriram no mercado aberto ou nos leilões para os outros jogadores ou para o banco. Para os outros jogadores eles pode vender no valor que julgarem correto, também podendo haver acordos nestas negociações. Se for vendido para o banco o Dominus só receberá o valor base descrito na carta. Após isso, ocorrem os leilões. Os jogadores escondem seus denários e são colocadas um número de cartas de mercado ocultas igual ao número de jogadores no tabuleiro. As cartas só são reveladas depois da anterior ser arrematada ou ninguém se interessar por ela. Após esse leilão, a ficha de Anfitrião é leiloada, novamente com os denários escondidos. Aquele que arrematar a ficha, organizará os eventos da Arena e será o primeiro jogador na próxima rodada.

Na fase da Arena, o jogador que arrematou a ficha de Anfitrião ganhará imediatamente +1 de Influência e poderá organizar o Evento da Arena da rodada. De início, ele “convida” dois Dominus para eles colocarem um de seus gladiadores ou escravos para lutarem entre si. Se um Dominus recusa o convite, ele perde imediatamente 1 de Influência. O Anfitrião pode entrar na arena se desejar. Após dois gladiadores entrarem na arena, começam as apostas, que envolvem apostar no lado vitorioso, no ferimento de algum gladiador, ou em decapitação. Os gladiadores e escravos tem estatísticas definidas pelo número de dados cada tipo (Ataque, Defesa e Velocidade) definido em sua carta. As disputas na arena se assemelham aos combates no War, comparando rolagens de Ataque e Defesa sendo, além da Velocidade para definir a iniciativa e movimento do gladiador, cada aceto no ataque reduz um dado do gladiador defensor, dados estes que o Dominus que controla o gladiador defensor escolhe qual remover. O vencedor é o lutador que esgotar um dos tipos de dados do outro lutador, que também pode terminar ferido (esgotar 2 tipos de dados), ou a decapitado (esgotar todos os tipos de dados). Após a conclusão os Dominus recolhem seus ganhos em apostas, as perdas são todas colocadas de volta no banco, e o gladiador vencedor recebem um marcador de Favor, que rende ganhos posteriores se ele for novamente colocado na arena. Por fim, o Dominus com gladiador vencedor ganha 1 de Influência. Obviamente não devemos esquecer que o gladiador perdedor que sobreviveu ainda está sujeito as vontades do Anfitrião dentro da fase da Arena, e talvez seja até conveniente que o perdedor seja executado, seja pela sua péssima performance ou mesmo por questões estratégicas futuras.

A vitória é definida quando um dos Dominus alcança 12 de Influência em uma das fases. Isso significa que eventualmente podem ocorrer empates, que são resolvidos geralmente em uma disputa na arena.

Como vemos, Spartacus é um jogo carregado de estratégias, disputas, acordos e até... Traições. Apesar de na descrição de algumas regras parecer muito complicado, os jogadores já se entendem com as regras passada a primeira rodada. Mas existem algumas ressalvas sobre o jogo. As mais óbvias são sobre o visual do boardgame, que indiscutivelmente não é bonito, o conteúdo ser +18 devido a sua temática sobre escravismo e citações explícitas. Muito além disso, Spartacus é um jogo que pode gerar algumas discussões por certas jogadas, além da honestidade da palavra não ser algo cobrado neste jogo, portanto o jogador precisa perceber que aquela “certa” jogada não é uma coisa pessoal, ou talvez possa até ser, mas não algo que tenha que gerar discussões raivosas na mesa. Algumas jogadas podem deixar a partida mais longa do que deveria. Para contornar isso, o jogo apresenta ritmos de jogo a partir do número de Influência inicial.

Spartacus é um boardgame muito bom em sua proposta, possui bastante estratégia, e são raras as ocasiões que os jogadores não veem alternativas para derrubar o melhor gladiador de outro Dominus. Como tantos outros, Spartacus mostra novamente que jogos de tabuleiro licenciados fogem a curva quando se trata de conteúdo interativo extra baseado em filmes e séries.

Seja o primeiro a comentar!

Deixar um comentário: